CADERNO DE CAMPO
dayanazdebsky
ARTE EM CIRCULAÇÃO
01 de junho
Programação do dia: Orquestra Organismo e Margit Leisner
Bem, vários materiais disponibilizados… Livros, vídeos, revistas e afins. O espaço está aberto ao público e à disposição do mesmo durante o horário de visitação. Também a disposição estão diferentes materiais para consulta e/ou cópia – incluindo a gravação das “conversas” dos dias anteriores.
Uma breve descrição do espaço:
É a Galeria da Caixa. Transformaram (Margit, Rubens…) o espaço em um lugar “habitável”, ou melhor, “ficável”. Inúmeras vezes já escrevi sobre a “insalubridade” de muitos espaços para as artes visuais no quesito permanência. Costumam ser “lugares de passagem”, onde o pouco público que os freqüenta se deparam com obras pelas quais passam. Pois bem, já que a proposta é ocupá-lo, acabo de decidir fazer deste meu lugar de trabalho quando possível, ainda mais se ele se mantiver tranqüilo como esses espaços costumam ser.
Duas estantes com livros e revistas, dois televisores, uma mesa redonda com quatro cadeiras, “pufs-bancos” brancos… Aconchegante. Ainda mais para um quase cubo retangular branco. Nada de divisórias, um espaço “aberto” com três pequenos ambientes interconectados entre si.
Em poucos instantes a sala deu uma “enchida”. Pessoas da Orquestra organismo, Paulo Reis, enfim…
As conversas têm, segundo Margit, atrasado um pouco. Ok. Básico.
Pela breve olhada que dei no “livro de presença”, boa parte do público do evento são artistas e estudantes de arte. Como sempre… Mas talvez esse evento seja mais conscientemente destinado a estes.
Algumas informações do programa:
A presente mostra é inicialmente uma reunião entre artistas de diversas localidades, principalmente d Curitiba e do Rio de Janeiro, com o público interessado nas práticas contemporâneas de agenciamento artístico, coletivos, arte processual, e questões relacionadas ao intervencionismo urbano e ao espaço público.
O projeto promove e tem como tema maior, o diálogo e a convergência de seus participantes a partir de assuntos, dados, conteúdos e ingredientes trazidos não de forma vertical ou especializada, mas também pelo público e diretamente aos artistas.
Um aspecto primordial de ARTE EM CIRCULAÇÃO é o seu formato processual, segundo o qual os conteúdos gerados se somam e se modificam, podendo ser compartilhados ao longo do evento.
SUBSTRATOS
No espaço cultural da CEF, além de falas diárias dos artistas convidados e da realização de duas mesas de debates, estão reunidos em um espaço de convivência e consulta na galeria, matérias bibliográficos – impressos e audiovisuais – selecionados especialmente por cada um dos participantes em seus respectivos acervos. A reunião desses materiais é duplamente positiva: além de dar subsídios e sustentação contextual para os diálogos e convergências, é da maior importância para o público especializado, estudantes de arte, colecionadores, professores de arte e qualquer interessado no tema. [O texto segue falando dos vídeos que serão exibidos]
Início da conversa
Glerm começa perguntando o que algumas pessoas acham que é esse projeto. Depois perguntou de Juan era da Orquestra Organismo. Afirmou que era do Interlux.
Glerm – Falamos de tecnologia ontem e hoje que deu uma overdose. Mostra o Hackeando Catatau – “blog autogerido” pela Orquestra Organismo. Falou do Encontro Submidialogia.
Glerm – Ontem explodiu uma discussão à respeito do autor, do coletivo, da autoria, da obra.
Questiona o que chama de tecnofobia...
“Dedo na tomada” – lógica de um “coletivo”. Vídeo no www.estudiolivre.org em nome de Maria.
Lúcio – Solicitamos que nossa fala fosse no final do evento para que possamos conversar com as pessoas, mas rolou agora, enfim […] a proposta é fazer um diálogo, quebrando a hierarquia de apresentações (um fala e outro escuta)[…]
Glerm – […] Alguém quer falar mais algumas coisa sobre isso… Querem mais vídeo?
Lúcio – Nos colocamos como uma instância única e não apenas […] (Otávio: palestrante e platéia). Colocamos como estratégia também apresentar alguns vídeos;
Glerm- […] Qual ordem? Auto-gestão tem disso. Fala de uma “catarse” do Tony Camargo falando do artista no meio, da entrada dele para mudar alguma coisa, sei lá…
Falou de Ricardo Bausbaum – objeto não objeto.
Vídeo exibido: “O canto do cisne”.
[Engraçado. Isso está parecendo encenação de texto de teatro contemporâneo]
GOTO – Qual é o problema da orquestra organismo ter uma estrutura, ter nomes, e situações que várias vezes outras pessoas aparecem? Qual é o problema de aparecer o indivíduo nesse coletivo. Tem pessoas atrás dele que nós sabemos o quem são. Qual é o problema? […] Na história de jogar para o coletivo a ação às vezes vcs não vêm que tem outras coisas.
[Engraçado. Quando mais eles se referem ao grupo, ao coletivo, mas parece se acentuar um “eu”, uma individualidade. Contraditório, só para variar…]
Chegaram Tony e Juliana.
[Pequena confusão por causa do horário de fala. Graças a uma peça que se iniciará às 19:00 no saguão do prédio, Teríamos que sair daqui antes das 19:00.. A solução “deliberada” foi ficar até o fim da peça].
Margit parece ter “se irritado” com a não objetividade da fala
Discussão do registro como verdade.
Tony – Nas últimas conversas tá difícil ter foco, em qualquer aparelho. Quero fazer uma pergunta para vc Guilherme. Esse vídeo que vimos agora é, para mim um objeto. Não há qualquer coisa que o afaste disso. Minha pergunta é se vc vê que ele se afasta disso. Pra mim existe toda uma articulação forma ali. […] resumindo: isso é um objeto de arte, não?
Glerm – Minha relação com esse vídeo é de um agenciamento. Ele é do Lúcio e da Cláudia. Pra mim esse vídeo é uma potência para ver o mundo.
Tony – Eu acho que não tem como a gente escapar da autoria. Alguma coisa a gente aprendeu com o outro, tudo o que a gente faz é uma filtragem do mundo. […] não tem a ver exatamente com ego e vaidade, mas mesmo que fosse… não me importa o artista, me importa ele, me importa a arte que ele está fazendo. Nossa autoria, para quem tem uma prática de análise, é bem evidente. Aliás a tradição da história da arte, que eu gosto de estudar, mostra como uma pincelada, a um século atrás, ‘deposita uma história’, a pessoa.
Cláudia– Existem escolhas e isso permite a produção coletiva. Esse jogo de autor, não-autor, muita vezes para o reforço do caráter da personalidade de cada um… Quando a gente tenta reforçar a não autoria a gente acaba carimbando…
Otávio – Existem diferentes falas e aqui caberia o silêncio também… Acho que a questão da autoria está relacionado à idéia de propriedade [… discussão sobre corpo, sobre autoridade, sobre propriedade –] o corpo não é propriedade nossa. Para mim começa aí a nossa discussão sobre autoria. Não aceito o concordo que tem uma efetividade mais no campo da linguagem do que na reificação… da matéria. […] temos a ilusão que a autoria está no último elo de uma relação causal. […] Acho que todos de uma série causal tem o direito a essa inscrição
Lúcio – Acho que a autoria está muito relacionada à responsabilidade, de como se posiciona no mundo […] Como se coloca no mundo com uma responsabilidade política, social… essa posição é necessária […] e ela é colocada sempre como algo que está fora…
Tony – Eu ouço as pessoas comentando como se o objeto estivesse um pouco à parte, isolado. Eu encaro a autoria não como uma legenda, mas algo que está dentro desse objeto […] eu acho que considerar a obra e arte como idéia e não como processo, como procedimento é algo grave. Eu acho inclusive que toda obra de arte está em processo.
Goto – Eu acho que tem um problema na sua fala, quando você fala como história da arte, ou da pintura. […] existem várias história da arte e muitas estão para ser escritas. Isso é um referencial forte seu. […] A arte não está só no objeto […] as coisas não ficam só no visual… O vídeo que vimos tem uma narrativa, tem um áudio […]
Tony – É óbvio que eu falo da história da arte ocidental e que eu acho que a história da arte ocidental não é a única e que várias culturas a perpassam. […] eu só acho que trabalhar com arte é uma puta responsa, e é necessário considerar o que já foi feito […] porque todas as coisas que foram feitas estão o tempo reformuladas, quer a gente queira ou não. Acho que a gente sempre deve considerar as coisas que já foram feitas.
XXXX – Relação entre outros autores e estilo. Eu dou oficinas literárias e quando a gente oferece autores aos alunos eles sempre se preocupam com o estilo. Eu digo que o estilo é uma praga, ninguém se livra de uma hora pra outra de seu estilo.
Glerm – Eu acho que mais que assinar a autoria é assinar a um contrato de olho no olho com aqueles que te ajudaram a fazer aquilo.
Otávio – [dentre outras moedas em jogo} vejo a circulação como algo que agrega valor.
[como esses discursos às vezes são razos….]
Goto – Na cultura não existe o autor, tudo é repasse…. Mas ainda assim existe o sujeito… Por aí a gente entra em um discurso que a gente fala de cultura e de arte. Reduzir a arte a o mercado de arte é esdrúxulo. Lógico que a gente utiliza ele com o matéria prima. Não existe “o autor”. […] todo mundo pode ser artista mas nem todo mundo é [!]. […] quais são nossas escolhas. […] Acho que o objetivo do artista não é apenas o bom trabalho, reconhecido pelo institucional. […] o artista não é um cara conformado […] a ente tem que reinventar […] a gente não se conforma com o sistema de arte institucional e temos que reinventá-lo, reformá-lo.
Otávio – Muitas vezes a maneira de colocar esse objeto em circulação não está exatamente no nicho.
Rubens – A gente não tem muito espaço de manobra.
MARGIT
Eu gostaria de não deixar de falar, porque está no programa e isso pode ser de alguma forma “bonito”….
Este projeto é fruto das pessoas que estão aqui nesse momento…. tem trabalho de um ano aí, não só meu e do Rubens mais de outras pessoas. Não existe nada que a gente faça sozinho, tudo vem de alguma forma de outras pessoas. O ato de fala aqui, a gente ocupar o espaço da Caixa, é uma das melhores coisas que estão acontecendo. As pessoas foram convidadas a participar e aceitaram. Foi uma escolha.
O fato de eu estar aqui falando depende de alguém estar me ouvindo. O espaço de fala é um espaço público nesse sentido, de representação. A partir do momento em que há um público esse espaço é um espaço de compartilhamento.
– Generosidade: falar de valores e não dar as costas para as relações que permitem a gente efetivamente interferir nesse sistema.
Pediu para colocar o Vídeo do Ilíada.
Acho uma irresponsabilidade convidar nossos amigos, para ocupar esse espaço institucional, com verba pública. Mas ao mesmo tempo eu vejo uma potência disso.
Goto: Estamos em um momento legal na cidade. Estamos vivendo um momento de troca, de projetos que permitem o contato direto.